(Céu escuro sem nuvens. Ouve-se apenas os semáforos trocando de cor.)
- Vamos para a sua casa.
- ...para a sua.
- Não tenho lugar certo para ficar. Te falei.
- É, falou.
- Então...
- Mas lá em casa tem minha mãe.
(Ela ri.)
- Ainda? Por esta eu não imaginava.
- Como assim?...
- Francamente, um marmanjo desses...
- Vou ignorar.
(Silêncio.)
- Tá. Mas e aí? Pra onde vamos?
- Bem, em casa não dá mesmo.
- Nunca levou uma mina pra casa?
- Não qualquer uma.
- Ah, então eu sou "qualquer uma"?
- Você sabe que não.
- Até você me dizer o contrário agora!
- Para com isso...
(Ele respira fundo. Ela acende um cigarro.)
- Vamos prum motel qualquer, então.
- Tô sem um puto... Te falei.
- É, falou.
- Então...
-Acho melhor deixar quieto.
(Ele pede um trago.)
- Assim? Desse jeito?
- É, ué. Cada um pro seu lado.
- Poxa.
- Nunca aconteceu com você?
- Ô, me dá pelo menos o teu telefone...
- Para você me ligar quando precisar de uma foda?
(Ele ri.)
- Pra dizer que você já pode ir em casa, quando eu tiver morando sozinho.
- Você não merece.
- Por quê?
- Qual é... deixa eu economizar essa.
(Silêncio.)
- Você só queria uma cama pra dormir.
- Escroto!
- E não é isso? Uma cama pra foder e pra dormir?
- Eu só queria, mesmo, precisar de você.
- Me diz de novo o teu nome.
- Tô indo embora.