30.12.05
...E Seja Feliz!
- Um Feliz Ano Novo!, ela te abraça e te deseja com um sorriso.
O que seria mais interessante? Um Ano Novo ou um Ano Feliz? Tenho medo de que querer as duas coisas seja muita pretensão. Acreditem, temo ser alguém pretensioso.
- Bem vindos ao desconhecido. Ele se chama futuro!, aquela voz anuncia com todo o mistério e sedução. O que se pode esperar de um Novo Ano? Que seja feliz? Prefiro não esperar, não criar expectativas.
-Este próximo ano te reserva muita coisa!, ela te avisa entusiasticamente.
O que haverá de especial? Qual a minha autonomia em relação à minha vida?
É possível, eu pergunto, é saudável acreditar no destino? Num caminho onde não se pode fugir, mudar, fazer diferente? Penso que é mais adequado seguir confiando a mim a direção dos meus passos. Continuar tecendo meus planos e aguardar o fracasso e o sucesso. É devastadora a crença de que sou um joguete do destino, do universo, da vida.
A comemoração toda gira em torno de um ano novo. E todos os velhos pensamentos vêm à tona: este ano vou melhorar, este ano tudo vai dar certo, este ano eu vou conseguir, este ano eu vou me arranjar, este ano vai ser diferente. Sempre tive pouca fé, mas a esperança residente em mim é resistente o bastante para dar força a estes pensamentos, e sinto que é capaz de dar nova energia a todos eles. "Tente. Invente. Faça um 2006 diferente."
Certas e duvidosas todas as contas, mapas, linhas e previsões astrológicas, o ano a ser construído é 2006. Mais um ciclo. Um novo ciclo.
2006. "Now, the air I tasted and breathed has taken a turn".
Muita coisa se deseja a todos aqueles que gostamos, amamos, convivemos. Prefiro guardar meus desejos próprios comigo. Que eles não se revelem agora, mas sim a cada novo dia deste ano que vem. E que cada dia seja realmente novo, diferente, melhor. Que estes novos dias sejam felizes, acima de tudo.
É isso. Ou quase. "O futuro já começou". E "o futuro não é mais como era antigamente".
13.12.05
Novos Olhares Sobre A Cidade: Rascunho
Acordei quando o metrô já estava quase parando na plataforma da estação. Desta vez, não houve campainha nem anúncio. Depois de sair, tentei calcular o tempo que fica aberta a porta até a campainha tocar avisando que fecha.
Lá fora, estava chovendo. Eu estava nem aí. Parei e comprei um sorvete. Todos apressados, procuravam coberturas, procuravam guarda-chuvas na bolsa, procuravam saber que horas eram. Eu, com meu sorvete, matava a vontade e refrescava a pressa.
Desta vez eu esperei o farol abrir para atravessar. Pisei, pé por pé, nas listras brancas da faixa de pedestres. A visão da cidade com gotas incômodas nos olhos é incrível.
Novos olhares sobre a cidade. A pulsação engarrafada do trânsito coloria o escuro do começo de noite como fosse pisca-piscas de Natal. Os guarda-chuvas, de quando em quando, se enroscando nos espaços apertados descobriam os rostos com medo da garoa. Todos quase robóticos. Apenas eu sabia o que estava acontecendo. E como a ponte fosse passarela, desfilava pé por pé na garoa, tomando o meu sorvete, me encantando com cada cor gotejante da metrópole que insistem em chamar de cinza-concreto-e-poluição.
7.12.05
Don't Leave Me High, Don't Leave Me Dry
Nunca consegui responder adequadamente à pergunta "Quem sou eu?".
Eu sempre soube querer ser outra coisa, algo diferente.
Sempre tive medo de que satisfação fosse conformismo.
Nem satisfeito, nem conformado, eu me sinto apertado aqui dentro. Não é possível mais morar neste eu que chamava de lar. Doce. Lar.
Eu queria me destruir, de pouquinho em pouquinho. Uma reforma geral não daria tão certo, eu penso mesmo em demolição. Inversamente proporcional, eu queria quebrar todas as minhas construções, fragmentar minhas idéias, derrubar meus alicerces, implodir minhas bases - tudo com muito carinho. Depois que a poeira fosse levada pelo vento sujo, depois que o entulho fosse colocado na caçamba, eu queria me construir com toda a força. Montar uma boa estrutura violentamente, erguer pilares a marretadas, me envolver em paredes massacradas tijolo por tijolo, abrir janelas como gritasse, destampando a garganta engasgada de maus sentimentos guardados, me cobrir com um teto de vidro mais pesado que o céu. E fechar a porta fazendo barulho. Depois da reconstrução, o silêncio mais alardeador. Gritante.
Uma casa nova. A vida diferente num outro lugar. Caretas novas e sorrisos de felicidade. Brincar no espelho como tivesse me descoberto numa imagem refletida nas águas de um rio que não sei onde nasceu, mas que eu vejo jorrando de cachoeira.
Um sótão, como eu sempre quis ter em casa, com um baú de tudo o que eu fora. Com fotografias minhas, antigas, como eu não conhecesse quem estava retratado, mas gostasse a ponto de querer ser.
Espero, eu só visitasse este sótão, abrisse este baú, depois de anos passados. Nem satisfeito, nem conformado. E quisesse ser tudo o que eu não fora de novo.
Eu nunca sei de verdade o que eu quero. Nem quando dá vontade de chorar.
Eu queria ser mais responsável.
Eu queria ser mais disciplinado. Educado. Dedicado.
Eu queria falar menos.
Eu queria sentir mais. Aumentar a tantas as minhas sensações.
Que elas escancarassem as portas do dito inadmissível.
Queria principalmente, que as minhas dores doessem mais.
Que elas tocassem os limites do que se diz suportável.
Acho que jamais saberei o que quero. Meus desejos nunca terão sentido.
Talvez eu quisesse viver menos. Quem vive muito, morre mais.
Eu sempre soube querer ser outra coisa, algo diferente.
Sempre tive medo de que satisfação fosse conformismo.
Nem satisfeito, nem conformado, eu me sinto apertado aqui dentro. Não é possível mais morar neste eu que chamava de lar. Doce. Lar.
Eu queria me destruir, de pouquinho em pouquinho. Uma reforma geral não daria tão certo, eu penso mesmo em demolição. Inversamente proporcional, eu queria quebrar todas as minhas construções, fragmentar minhas idéias, derrubar meus alicerces, implodir minhas bases - tudo com muito carinho. Depois que a poeira fosse levada pelo vento sujo, depois que o entulho fosse colocado na caçamba, eu queria me construir com toda a força. Montar uma boa estrutura violentamente, erguer pilares a marretadas, me envolver em paredes massacradas tijolo por tijolo, abrir janelas como gritasse, destampando a garganta engasgada de maus sentimentos guardados, me cobrir com um teto de vidro mais pesado que o céu. E fechar a porta fazendo barulho. Depois da reconstrução, o silêncio mais alardeador. Gritante.
Uma casa nova. A vida diferente num outro lugar. Caretas novas e sorrisos de felicidade. Brincar no espelho como tivesse me descoberto numa imagem refletida nas águas de um rio que não sei onde nasceu, mas que eu vejo jorrando de cachoeira.
Um sótão, como eu sempre quis ter em casa, com um baú de tudo o que eu fora. Com fotografias minhas, antigas, como eu não conhecesse quem estava retratado, mas gostasse a ponto de querer ser.
Espero, eu só visitasse este sótão, abrisse este baú, depois de anos passados. Nem satisfeito, nem conformado. E quisesse ser tudo o que eu não fora de novo.
Eu nunca sei de verdade o que eu quero. Nem quando dá vontade de chorar.
Eu queria ser mais responsável.
Eu queria ser mais disciplinado. Educado. Dedicado.
Eu queria falar menos.
Eu queria sentir mais. Aumentar a tantas as minhas sensações.
Que elas escancarassem as portas do dito inadmissível.
Queria principalmente, que as minhas dores doessem mais.
Que elas tocassem os limites do que se diz suportável.
Acho que jamais saberei o que quero. Meus desejos nunca terão sentido.
Talvez eu quisesse viver menos. Quem vive muito, morre mais.
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