Mediante estas belas mentiras...

digo sempre o que tenho de verdade.

22.7.05

To The Oscar I've Gone














Quarta-feira e este inverno meu traiu. Saí de óculos escuros.
Resolvi na noite anterior o que faria no dia desocupado que estava para amanhecer e já destaquei dois selecionados no guia: um filme e uma exposição. Era por volta de três horas da tarde quando cheguei ao HSBC Belas Artes. A moça bilheteira confirmou o horário. O filme era "Casa de Areia". Queria a sessão das duas, mas a feijoada fora de ocasião que me serviu de almoço em casa acabou por escolher a sessão das quatro e vinte. Eu teria uma hora tranqüila para ler "Restou o Cão - e outros contos", de Ligia Garcia-Roza. Para distrair. O trânsito-caos que seguia a Consolação só atrapalhou no começo.
Simplesmente deslumbrante, o filme. Belíssimas e emocionantes imagens e atuações. Sem dúvida alguma, uma obra que traz restrições para ser apreciada pelo grande público. Porém, não é difícil se envolver naqueles densos lençóis maranhenses, os quais caminharam as incríveis Fernandas.
O inverno tarda mas não falha. Saí e dei de cara com o vento frio característico. Tratei de pegar a blusa, o mapinha básico e andar rumo à Galeria Bergamin para ver a exposição "Através", com obras de 'grandes' nomes da arte brasileira. Descendo a Bela Cintra e atravessando as alamedas. Santos, Jaú, Itú, Franca, Tietê, Lorena, e eu atravessando e lembrando de quando eu vinha, antes na Alameda Franca, e depois na Santos, consultar-me com o Marco Antônio, psicólogo, quando criança. Lembrei do passado mas não do mapa. Acabei fazendo outro caminho. Fui direto na Oscar Freire e acabei não achando de primeira a tal travessa, aparentemente inexistente. Voltei até a Rua Augusta, desci a 120 por hora até a Rua Estados Unidos, dobrei à esquerda e subi pela Padre João Manuel. Nem tinha esta rua no mapa. São tantos os idiomas falados naquelas esquinas que eu quase arrisquei um "Could you help me, please? I need to go to Rio Preto Street...". Deixa quieto. Resolvi continuar pela Oscar Freire. Achei a tal rua. Bem mixuruca. Rua Rio Preto. Era lá a Galeria. O segurança que fica do outro lado da rua me olhou feio. O recepcionista me antendeu bem, entregou-me o catálogo das obras e deixou-me à vontade. Não gostei da exposição. Tenho sérias dificuldades em gostar de arte moderna e contemporânea. Acho inclusive que também atiraria tomates no palco do Municipal, se vivesse naquela São Paulo de 22. Até que as obras de Ligia Pape e Abraham Palatnik agradaram-me. Em contrapartida, Hélio Oiticica e Alfredo Volpi me decepcionaram, tamanhos os nomes que têm. Não creio, neste caso, em importância histórica. Tudo bem, o problema está em mim, e não na arte. Fui embora. Claro, sorri para o segurança.
É impressionante o modo como somos vistos em ruas superluxuosas como a Oscar Freire. As pessoas me olhavam como se fosse um office-boy e tudo o que isso (in)significa pra eles. Talvez por causa da mochila. E eu apenas olhava curiosamente. Aquela rua, aquelas pessoas, a forma de distribuição das coisas. Todas aquelas boutiques, vitrines de preços altíssimos, caras até para olhar. Os cafés e bares lotados. Os italianos ouvindo música americana em seus iPod's, os americanos usando marcas italianas em seu vestuário da night. Os burgueses chiques caminhando lentamente. Eu disse chiques? Chique já era. Burguês é fashion, como no outdoor. Como na SPFW.
Eu já tinha caminhado pela Oscar Freire outras vezes, mas desta vez me senti incomodado. Dois gringos viados - ou metrossexuais - param para atravessar a rua ao meu lado. Talvez não fossem viados - ou metrossexuais. Eu, um tanto retrossexual e homofóbico, até tentei decifrar o inglês sugestivo da dupla, mas acabei por apertar o passo quando o sinal abriu. Um senhor japonês, que também estava para atravessar, fez uma cara desacreditada. Continuo a observar. Tudo é muito limpo, bonito, iluminado. Fashion. Ninguém com uma cara que expresse verdade. Principalmente as garçonetes. Somente os seguranças. E nas esquinas das boutiques que fecham cedo, os moradores de rua fazem um simpósio de inverno. O chinelo Havaianas da menina e a bota Arezzo da moça. As duas cruzando olhares na esquina, até a moça atravessar sabe quantas alamedas até o café.
O filme foi excelente. A exposição, desagradável. A Oscar Freire, terrível. Na Augusta, eu indo para o ponto de ônibus, um rapaz vasculha o lixo para ver se encontra alimento. Uma mulher vasculha a agenda de telefones em seu aparelho celular para ver se encontra amigos pra jantar. O ônibus não vem. O rapaz nada acha. O telefonema da mulher deve ter dado caixa postal.
No ônibus eu continuaria lendo os contos de Garcia-Roza. Mas o dia poderia ter tido um final melhor. Talvez tenha, para a moça da bota Arezzo e seu belo sorriso sem graça.
Acho que Zeca Baleiro estava certo:
as meninas dos jardins gostam de rap
as meninas dos jardins gostam de rap
as meninas dos jardins gostam de happy end.

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Texto escrito no dia 13/07, quarta-feira, ao fim da noite

6 comentários:

Anônimo disse...

oizinhu ...adoro passar por aki sabe !!! eh mt bom ...adoro ler o q vc escreve ....sempre me recordo dos dias nos quais vc fikavahoras falandu ....seja pra dah um conselho , um conforto , uma palavra amiga ou por simplesmente invertanr as historias masi estapafurdias desse mundo afim de escapar de alguma bronka !!!sabe Laion ontem msm ..eu li o scrap q vc me deixou nu orkut e fikei mt emoionada ao ver o q vc disse ... vc lembra ?? vc disse q aprendeu a sorrir ao ver meu sorriso e hj eu te digo ..se um dia eu sorri foi pq um dia vc tava lah pra me alegrar !!!!!!!!!!!! obrigada mas mt obrigada msm por seu meu AMIGO !!!!!!!! BEIJINHOS !!!STELLA

Anônimo disse...

Oi Laion, como vai?
Espero que bem...

Dizem que São Paulo vive num ritmo alucinante mas, apenas quando paramos para observar o ritmo exato em que tudo ocorre, entendemos a cidade. Amo-a e fico triste por não poder visita-la com maior frequencia.

Amigos, lugares, pessoas, parques... tudo nessa cidade me faz falta.

Sei lá por quê escrevi tudo isso. Talvez para dizer que, apesar de fria, a cidade sempre sorri para quem sabe onde ir.
Talvez para dizer que sinto falta sua e da menina Paula, pessoas por quem tenho muito carinho.
Talvez eu só esteja melancólica por não aproveitar a cidade em minhas últimas idas a ela.

Mas o fato é que a cidade é bela, só precisamos saber para onde olhar.

Karina disse...

e que noite ...

Anônimo disse...

Oi Laion...!
Tdu bom?! Espero q sim...

Poxa²... sabe ki ao contrariu du q vc disse eu acho ki tds lêem u ki vc escreve...
E tds gostam...! Pelo menos eu adoro!! Eu imagino, viajo, eu sinto a história sabe?!!
Nussa²... Vc tem pensamentos incríveis, sabe escrever mtu bemMm, ótima criatividade...! Te admiro mtuuu sabia?!

AhHh Laion... eh isso... huehuehue
Te adoro~
Kissu*Xauz~

Anônimo disse...

Cara, tô impressionada, esse texto é muito, muito bom. Bjs, Mari Poet.

Anônimo disse...

Texto geográfico. Prato cheio pra mim.

Gostei bem daqui.