Mediante estas belas mentiras...

digo sempre o que tenho de verdade.

7.12.05

Don't Leave Me High, Don't Leave Me Dry

Nunca consegui responder adequadamente à pergunta "Quem sou eu?".
Eu sempre soube querer ser outra coisa, algo diferente.
Sempre tive medo de que satisfação fosse conformismo.
Nem satisfeito, nem conformado, eu me sinto apertado aqui dentro. Não é possível mais morar neste eu que chamava de lar. Doce. Lar.
Eu queria me destruir, de pouquinho em pouquinho. Uma reforma geral não daria tão certo, eu penso mesmo em demolição. Inversamente proporcional, eu queria quebrar todas as minhas construções, fragmentar minhas idéias, derrubar meus alicerces, implodir minhas bases - tudo com muito carinho. Depois que a poeira fosse levada pelo vento sujo, depois que o entulho fosse colocado na caçamba, eu queria me construir com toda a força. Montar uma boa estrutura violentamente, erguer pilares a marretadas, me envolver em paredes massacradas tijolo por tijolo, abrir janelas como gritasse, destampando a garganta engasgada de maus sentimentos guardados, me cobrir com um teto de vidro mais pesado que o céu. E fechar a porta fazendo barulho. Depois da reconstrução, o silêncio mais alardeador. Gritante.

Uma casa nova. A vida diferente num outro lugar. Caretas novas e sorrisos de felicidade. Brincar no espelho como tivesse me descoberto numa imagem refletida nas águas de um rio que não sei onde nasceu, mas que eu vejo jorrando de cachoeira.

Um sótão, como eu sempre quis ter em casa, com um baú de tudo o que eu fora. Com fotografias minhas, antigas, como eu não conhecesse quem estava retratado, mas gostasse a ponto de querer ser.
Espero, eu só visitasse este sótão, abrisse este baú, depois de anos passados. Nem satisfeito, nem conformado. E quisesse ser tudo o que eu não fora de novo.

Eu nunca sei de verdade o que eu quero. Nem quando dá vontade de chorar.

Eu queria ser mais responsável.
Eu queria ser mais disciplinado. Educado. Dedicado.
Eu queria falar menos.

Eu queria sentir mais. Aumentar a tantas as minhas sensações.
Que elas escancarassem as portas do dito inadmissível.
Queria principalmente, que as minhas dores doessem mais.
Que elas tocassem os limites do que se diz suportável.

Acho que jamais saberei o que quero. Meus desejos nunca terão sentido.
Talvez eu quisesse viver menos. Quem vive muito, morre mais.

2 comentários:

Anônimo disse...

De fato, são bonitas palavras encaixadas, moldando um quebra-cabeças.
Digo Quebra-cabeças, não por ser complicado ou indecifrável, e sim por ser interessantissimo.

obs: meu passatempo predileto são quebra-cabeças!

Anônimo disse...

Bem interessante... a reconstrução impossivel do eu... a desmoronavel e inconstituivel perfeição do ser.
Gostei principalmente do final.
Agora aproveita e comenta no meu blog tb xD

belo texto

abraços e boas ferias!