29.8.05
Desdém A Um Desencontro Sorridente
É que eu achava essencial que alguém te amasse;
Assim, sem mais, resolvi te amar
E nunca foi necessária nenhuma reciprocidade
Nunca fui capaz de ter ciúmes de você
Jamais sofri quando tuas respostas eram não
Somente (sempre) tive seu abraço de amizade
Não me dava saudade um beijo de amor
Eu fico até feliz de te ver nos beijos dos outros
Você é apenas mais um de meus inúmeros amores
Que eu amo e desamo ao nascer e ao pôr do sol
23.8.05
Resignação Platônica
Nada escuto, nada toco e não respiro. Mas te ver é o melhor dos sentidos. Eu detestaria ouvir qualquer palavra que venha de ti. Sentir qualquer gesto oferecido a mim.
Não me importa tua voz, teu gosto, teu cheiro, teu toque. Toda minha existência está em apenas te ver. Eu não quero nem preciso ter qualquer outra coisa, somente este voyeur.
Você é meu quadro, minha foto, meu filme. Minha obra-prima. A primeira, a única e a que eu eternamente vou amar com total fidelidade e dedicação.
Mas seria o inferno ter que falar com você. Ter que dizer tudo isso, ou qualquer outra coisa. Eu não saberia fazer nada. Por causa, e só por causa de você eu não mais falo, não mais toco, não mais cheiro, não mais ouço, não mais sinto nada. Nada tem gosto. E tudo o que eu sei, tudo o que eu vejo é você.
Você é a única palavra que eu diria a alguém, se soubesse. Se pudesse. Diria “você” com toda a felicidade.
Não sei teu nome e detestaria poder perguntar. Ficar sabendo. “Você”, para mim, é o nome mais lindo. E se eu pudesse, não daria esse nome a mais ninguém.
Não sei se é amor, o que vejo em você. Sentir, já não sinto. Não posso nada imaginar sobre o que seria isso. Amor, não é. Nem paixão. Acho mesmo é que é Platão.
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Texto escrito na última quarta-feira do mês de junho deste ano, no Centro Cultural São Paulo, pela manhã. Pouco foi modificado, do papel escrito a lápis para a tela digitada. A essência não foi tocada. Tudo isso foi resultado de uma reflexão emocional momentânea - não referente aos últimos acontecimentos.
18.8.05
Dezessete de Agosto, Brasília
Em tempos de protesto,
desejos acabam se molhando em radicalismos
desejos se secam em desesperança
Em tempos de protesto,
apoio moral de nada adianta
É preciso sair às ruas,
destampar a garganta
"Eu quero é que caia esta República, que tudo se foda,
e que venha a revolução!"
Destruir para reconstruir
O protesto todo é contado em metros quadrados
pela Polícia Militar
A mídia fotografa mesmo as caricaturas
A mídia relata mesmo os incidentes
"A revolução não será televisionada"
A luta é tão constante quanto a mudança
É difícil saber o que se quer,
mas vem fácil toda a indignação
Fora todos!, então;
Sempre somos nós que estamos certos
É do nosso lado que deve nascer o refrão
Eu luto pelo desejo de não sofrer
por não ter lutado
11.8.05
Olhos Que Se Cruzam Antes Dos Caminhos
Esta cidade ganhou meu amor incondicional de tal forma que é duro aceitar a idéia de, em determinado momento, me permitir ser forçado a deixá-la.
Esta cidade tem insônia e eu adoro fazer companhia para ela quando no frio das madrugadas em que paro para buscar a filosofia nossa de cada noite.
Esta cidade tem cores tantas, mas jamais pode ser considerada um arco-íris. Não existe pote de ouro, nem toda esta felicidade colorida. E tem um cinza forte demais.
Esta cidade faz brotar pessoas de todos os cantos, partindo para o sem-rumo cotidiano, rotineiro, massacrante, de vez em quando inusitado.
Esta cidade propicia tantos encontros e faz tantos outros desencontrados enxergarem a solidão que todos os restos de sorriso nos rostos de povo das ruas travessas parecem ser um alento para quem passa ao nosso lado, para quem esbarra em nosso ombro, enrosca-se em nossa mochila, pisa em nosso pé e não pede desculpas, pede a nossa esmola, pergunta pelas horas.
A moça vem do outro lado, o lado para onde vou. Eu já grito desde o dedo do pé que nunca mais verei esta moça em minha vida. Tantas pessoas caminham em passos apressados num fluxo contínuo de cidade que não pára. Não sei porque eu fui olhar para ela. Mas eu sei que ela também olhou pra mim. Está olhando e continua a olhar. Tem horas que a cidade tão grande diminui de forma tão brusca que aperta nosso coração. Mas sempre resta espaço para uma dança.
- Nunca foi tão difícil escolher entre esquerda e direita.
- E desde que eu te vi, lá de longe, tentava escolher um dos lados sem perder os teus olhos.
- A gente precisava mesmo se encontrar. Este era o único meio para ambos os lados.
6.8.05
A Vida Secreta dos Dentistas
O amor não é perfeito.
O casamento é impossível.
Ele faz tudo. É ele quem sorri. É ele quem abraça. É ele quem chega mais cedo, levando flores e beijos. É ele quem diz "eu te amo". É ele quem procura os olhos dela.
Ela só o faz sofrer.
E ele vê coisas. Ouve coisas. Diz coisas. Vive estas coisas todas procurando-a, querendo-a ao seu lado. Ela chega sempre mais tarde. Ela apenas traz o jantar. A comida congelada. É ele quem põe as crianças na cama. É ele quem diz "boa noite". Ela apaga o abajur.
Ela só o faz sofrer. Mais.
Ele se perde em si mesmo. Ele chora. Ele foge, e se esconde. Dentro de seu esconderijo, ele mergulha em sua própria dor. Ele desespera-se apenas de pensar em perdê-la para algo que ele não sabe se existe além dos seus sonhos de Otelo. Ele só pensa nela. Seu amor por ela domina todo o seu ser. É um amor devoto, incondicional, amor da vida inteira, amor de sorrisos felizes.
Ela só o faz amá-la ainda mais.
O amor não é mesmo perfeito.
O casamento talvez não seja tão impossível.
Ela só o faz feliz.
1.8.05
Parabéns Pra Você, Nesta Data Querida...
Eu queria escrever em versos esta conversa. Hoje não é um dia prosaico.
O genial Mário Quintana uma vez disse: "Bendito quem inventou o belo troque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia primeiro de cada mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas recomeça”. Penso eu que nesses constantes começos e recomeços em que consiste a vida, o aniversário é um marco de um novo ciclo. É um ano novo. Uma renovação, mesmo que apenas desejada pelo inventor do calendário, da linha contínua de nossa existência. E talvez por significar tanto é que se comemoram os aniversários, os anos novos e todas as inaugurações – menos as segundas-feiras – de todos os ciclos vividos por nós.
De repente eu tenha achado aí a explicação. Nunca vi muito propósito em comemorar os aniversários. É uma cisma antiga, essa minha.
Talvez seja mais que uma cisma, quem sabe uma reflexão comportamental da sociedade de comemorar datas. Todos têm seu dia. Dia de Finados, por exemplo. Até os que já viveram seus anos são lembrados.
Quando era mais novo, vivia pensando coisas que julgo que ninguém nunca pensou. Até hoje acontece coisa assim. Pensava na possibilidade de haver um dia em que ninguém tenha morrido, e ninguém nascido. Talvez fosse esse o dia da não-comemoração. E eu também pensava que só eu havia nascido naquela data, do ano de 1989.
Eu demorei a conhecer alguém que fizesse aniversário na mesma data que eu. Com isso o Orkut ajudou-me. Faço parte da comunidade dos nascidos em 1º de agosto. Recebi e mandei até muitos scraps em virtude da data para alguns de seus membros. Uma até escrepou chamando-me de ‘chuchu’. Adoro esta forma carinhosa de chamar as pessoas.
Nunca gostei muito de festas de aniversário. Principalmente quando era eu atrás da mesa, todos em volta olhando, de chapéu na cabeça, prontos a cantar a célebre música. Antes de compô-la, o que cantavam? Como eram as festas de aniversário?
Nunca gostei muito de festas de aniversário. Principalmente quando era eu quem recebia todos beijos, abraços, presentes e desejos. Mas é bom ser lembrado. Quem não gosta?
Dia 1º de agosto. Este dia é só meu. Meu e de todo mundo que hoje comemora seu ano novo que começa. Muitos anos virão, eu torço para isso! Mas hoje, eu só tenho dezesseis. Que isso fique de aviso para vocês!
É. E pra comemorar eu queria ter escrito AQUELE texto. De preferência em versos. A poesia é sempre mais encantadora. Mas que mal há? Gostaríamos que a vida tivesse toda a beleza dos versos poéticos, mas a vida é crônica. Se o texto está ruim, também não faz mal. Afinal, não somos o resultado de nossas inspirações, mas sim do acúmulo de nossas banalidades. E o que há de ruim, de pequeno, de errado, faz parte da gente. Não podemos arrancá-lo com desdém, mas com profundo agradecimento. E para quem se lembrar de mim, hoje, obrigado.