Mediante estas belas mentiras...

digo sempre o que tenho de verdade.

30.12.05

...E Seja Feliz!
















- Um Feliz Ano Novo!, ela te abraça e te deseja com um sorriso.
O que seria mais interessante? Um Ano Novo ou um Ano Feliz? Tenho medo de que querer as duas coisas seja muita pretensão. Acreditem, temo ser alguém pretensioso.
- Bem vindos ao desconhecido. Ele se chama futuro!, aquela voz anuncia com todo o mistério e sedução. O que se pode esperar de um Novo Ano? Que seja feliz? Prefiro não esperar, não criar expectativas.
-Este próximo ano te reserva muita coisa!, ela te avisa entusiasticamente.
O que haverá de especial? Qual a minha autonomia em relação à minha vida?
É possível, eu pergunto, é saudável acreditar no destino? Num caminho onde não se pode fugir, mudar, fazer diferente? Penso que é mais adequado seguir confiando a mim a direção dos meus passos. Continuar tecendo meus planos e aguardar o fracasso e o sucesso. É devastadora a crença de que sou um joguete do destino, do universo, da vida.

A comemoração toda gira em torno de um ano novo. E todos os velhos pensamentos vêm à tona: este ano vou melhorar, este ano tudo vai dar certo, este ano eu vou conseguir, este ano eu vou me arranjar, este ano vai ser diferente. Sempre tive pouca fé, mas a esperança residente em mim é resistente o bastante para dar força a estes pensamentos, e sinto que é capaz de dar nova energia a todos eles. "Tente. Invente. Faça um 2006 diferente."
Certas e duvidosas todas as contas, mapas, linhas e previsões astrológicas, o ano a ser construído é 2006. Mais um ciclo. Um novo ciclo.
2006. "Now, the air I tasted and breathed has taken a turn".

Muita coisa se deseja a todos aqueles que gostamos, amamos, convivemos. Prefiro guardar meus desejos próprios comigo. Que eles não se revelem agora, mas sim a cada novo dia deste ano que vem. E que cada dia seja realmente novo, diferente, melhor. Que estes novos dias sejam felizes, acima de tudo.

É isso. Ou quase. "O futuro já começou". E "o futuro não é mais como era antigamente".

13.12.05

Novos Olhares Sobre A Cidade: Rascunho














Acordei quando o metrô já estava quase parando na plataforma da estação. Desta vez, não houve campainha nem anúncio. Depois de sair, tentei calcular o tempo que fica aberta a porta até a campainha tocar avisando que fecha.
Lá fora, estava chovendo. Eu estava nem aí. Parei e comprei um sorvete. Todos apressados, procuravam coberturas, procuravam guarda-chuvas na bolsa, procuravam saber que horas eram. Eu, com meu sorvete, matava a vontade e refrescava a pressa.
Desta vez eu esperei o farol abrir para atravessar. Pisei, pé por pé, nas listras brancas da faixa de pedestres. A visão da cidade com gotas incômodas nos olhos é incrível.
Novos olhares sobre a cidade. A pulsação engarrafada do trânsito coloria o escuro do começo de noite como fosse pisca-piscas de Natal. Os guarda-chuvas, de quando em quando, se enroscando nos espaços apertados descobriam os rostos com medo da garoa. Todos quase robóticos. Apenas eu sabia o que estava acontecendo. E como a ponte fosse passarela, desfilava pé por pé na garoa, tomando o meu sorvete, me encantando com cada cor gotejante da metrópole que insistem em chamar de cinza-concreto-e-poluição.

7.12.05

Don't Leave Me High, Don't Leave Me Dry

Nunca consegui responder adequadamente à pergunta "Quem sou eu?".
Eu sempre soube querer ser outra coisa, algo diferente.
Sempre tive medo de que satisfação fosse conformismo.
Nem satisfeito, nem conformado, eu me sinto apertado aqui dentro. Não é possível mais morar neste eu que chamava de lar. Doce. Lar.
Eu queria me destruir, de pouquinho em pouquinho. Uma reforma geral não daria tão certo, eu penso mesmo em demolição. Inversamente proporcional, eu queria quebrar todas as minhas construções, fragmentar minhas idéias, derrubar meus alicerces, implodir minhas bases - tudo com muito carinho. Depois que a poeira fosse levada pelo vento sujo, depois que o entulho fosse colocado na caçamba, eu queria me construir com toda a força. Montar uma boa estrutura violentamente, erguer pilares a marretadas, me envolver em paredes massacradas tijolo por tijolo, abrir janelas como gritasse, destampando a garganta engasgada de maus sentimentos guardados, me cobrir com um teto de vidro mais pesado que o céu. E fechar a porta fazendo barulho. Depois da reconstrução, o silêncio mais alardeador. Gritante.

Uma casa nova. A vida diferente num outro lugar. Caretas novas e sorrisos de felicidade. Brincar no espelho como tivesse me descoberto numa imagem refletida nas águas de um rio que não sei onde nasceu, mas que eu vejo jorrando de cachoeira.

Um sótão, como eu sempre quis ter em casa, com um baú de tudo o que eu fora. Com fotografias minhas, antigas, como eu não conhecesse quem estava retratado, mas gostasse a ponto de querer ser.
Espero, eu só visitasse este sótão, abrisse este baú, depois de anos passados. Nem satisfeito, nem conformado. E quisesse ser tudo o que eu não fora de novo.

Eu nunca sei de verdade o que eu quero. Nem quando dá vontade de chorar.

Eu queria ser mais responsável.
Eu queria ser mais disciplinado. Educado. Dedicado.
Eu queria falar menos.

Eu queria sentir mais. Aumentar a tantas as minhas sensações.
Que elas escancarassem as portas do dito inadmissível.
Queria principalmente, que as minhas dores doessem mais.
Que elas tocassem os limites do que se diz suportável.

Acho que jamais saberei o que quero. Meus desejos nunca terão sentido.
Talvez eu quisesse viver menos. Quem vive muito, morre mais.

12.11.05

A Gothic Poem Barely Written In A Cemetery



















Agora, eu tomo as asas de um anjo caído
E tomo toda a melancolia de sua solidão
Toda a sua penumbra é a minha escuridão
E o seu silêncio frio canta o meu choro escondido

As lágrimas afogam as palavras perdidas
E o meu peito sofre de uma dor desesperada
Que pulsa mais forte ao ver sua face maculada
E ao provar a angústia das suas despedidas

Como é doce o amor, que tão logo nos traz
O manto que cobre a saudade e permite a paz
E tão logo os pesares não são mais sentidos;
Tão logo os versos tristes são esquecidos

Não peça que eu te prometa, meu anjo,
Que poderei fugir da minha única certeza;
Que não mais beberei nas fontes secas da tristeza;
Pois a minha dolorosa sentença não afaga o teu desejo

Mas diante de toda a eternidade do seu lar,
Coberto por suas asas, olhando em seus olhos, vou jurar
Que não será impossível te dar todo o meu amor
Que eu te guardarei comigo até o último sol se pôr

2.11.05

Círculo














Me roubaste.
E Me prendeste.

Seu amor? É. A unica lei aqui.
E lei é lei.
Lei do cão.
Lei seca.
Lei do mais forte.
Lex dura lex.

Na solitária cela, o sol
não nasce quadrado aos meus olhares.
Simplesmente não nasce.

O frio e as incertezas vêm no mesmo vento
sem sol.
Meus companheiros de cela, eu não posso vê-los.
Mas conversam comigo esquizofrenéticamente


.................o medo....... a culpa

............a culpa.................. o sonho

.........o sonho ......................o desejo

............. o desejo ............o medo



.............................................circulando...
...circulando,

.........................circulando,


Quem conhece o plano de fuga?
Parem, seus egoístas!

..........................................Parem!
Divagando,
..............devagar...


Se não existe preso inocente,
faz sentido a culpa

Se é só o amor quem conhece a verdade,
faz sentido o desejo

Se errar é humano,
faz sentido o medo


O que dá sentido ao sonho?

Eu assumo a culpa, me entrego ao desejo,
perco o medo

Será que eu já posso sonhar?

A liberdade é mesmo azul?
Me deixa morar neste azul?

Será que eu já posso sonhar?
Será que eu ainda posso sonhar?

4.10.05

O Que Mais-Vale?

O Oliver andou aí com uma bobagem das muitas que ele anda, provenientes de seus insights. Esta a qual me refiro é "Diálogos", um retrato de nossas prosas cotidianas que necessitam de um registro. Já que de certo modo abandonei as postagens deste meu blogue, vou brincar só um pouquinho com algumas situações vividas por mim que justifiquem estes seguintes 'dois pontos, parágrafo e traço'.

Diálogos
"O Que Mais-Vale?"
Laion e Laury


- Lauri, eu fiz um curso de introdução ao marxismo, lá no PSTU!
- Ah, é? E então, gostou?
- Foi legal. Gostei bastante.
- Mas e aí, conheceu a teoria da mais-valia?
- Uhum... Conheci, sim.
- Pois então você vai se tornar um revolucionário...?
- Eu não! Vou me tornar é empresário.



"Apesar de Você, Amanhã Há De Ser Outro Dia"
(Apesar de Você, Chico Buarque)

27.9.05

Animal Sentimental De Hábitos Noturnos

Eu jantei apenas por conveniência. A quantidade de comida no prato era realmente muito inferior à de costume e talvez eu nunca tenha comido com tanta falta de vontade, com tamanha ausência de fome.
Eu não estou bem. Só parei para escrever antes de dormir por não ter o costume de fazer uma oração. Tudo o que eu preciso agora é de um travesseiro para abraçar e de um cobertor que me sirva de abrigo contra o frio e todo o resto do mundo; um silêncio de noite; um barulho de chuva que mata o silêncio de noite; uma música triste que anula o barulho de chuva que mata o silêncio de noite. Preciso também chorar, pôr a alma que penso não ter para lavar em lágrimas. Enxugar no travesseiro que eu abraço.
Eu abraço o travesseiro porque você não está comigo. Eu não queria mesmo olhar na sua cara agora, mas queria te abraçar sim!, e me esconder no teu colo pra sempre.

22.9.05

Poesia É Amor Para Viver

(É algo que não quero poder explicar:)
Substituo o desejo de fazer poesia
Pela necessidade de vivê-la em meus dias:
Dedico-me apenas a te amar

12.9.05

Fidelidade, Dadas As Ordens do Poetinha

Antes de tudo, serei atento ao meu amor
E com tal zelo, e sempre, e tanto,
que mesmo em face do maior encanto,
o encanto do meu pensar por ele seja maior

6.9.05

Às Amáveis Cópias Perfeitas














Todos vocês
São cópias perfeitas
ao falarem de arte
ao falarem de política
ao falarem de religião
ao falarem de sociedade
ao falarem de juventude
ao falarem de vida
ao falarem de mundo
ao falarem de guerra
ao falarem de morte

Cópias perfeitas, clichê, lugar-comum, senso universal
ao falarem de homens
ao falarem de mulheres
ao falarem de sentimentos
ao falarem de tudo

Logo vocês, perfeitas cópias perfeitas, cobram originalidade minha para falar de amor! Ora, não sejam tolos! O que sabem, todos vocês, de amor? Sabem, todos, falar aquilo que sempre foi dito.
Mas não sabem o mais importante! Não sabem que falar de amor não é amar.
O amor pode ser único. Um só. E eu sei que vocês adorariam copiar sentimentos. Sentir o amor da mesma forma com a qual os outros sentem. Mas não podem. Isso não é possível. Incontinênti, loas a esta impossibilidade! Pois ela é redentora.

"Canções de amor se parecem porque não existe outro amor"
(Zeca Baleiro)

1.9.05

...Eu Escolhi Para Te Dizer














Naquela caixa onde eu guardava palavras aos montes,
apenas consegui encontrar Eu, Te, Amo.

29.8.05

Desdém A Um Desencontro Sorridente

Meu amor por você, eu sei bem como despertou:
É que eu achava essencial que alguém te amasse;
Assim, sem mais, resolvi te amar
E nunca foi necessária nenhuma reciprocidade

Nunca fui capaz de ter ciúmes de você
Jamais sofri quando tuas respostas eram não
Somente (sempre) tive seu abraço de amizade
Não me dava saudade um beijo de amor

Eu fico até feliz de te ver nos beijos dos outros
Você é apenas mais um de meus inúmeros amores
Que eu amo e desamo ao nascer e ao pôr do sol

23.8.05

Resignação Platônica












Eu me sinto apertado, incomodado, desconfortável, limitado, resignado, preso, pasmo. Mas não perco a vista.É como se eu estivesse numa gaiola, de frente para o mar. Eu me sinto assim, mas tudo o que me vale é poder te ver. Eu cometo essa loucura, este ascese, eu aceito essa clausura porque poso te ver. É tudo que me alimenta, me completa e me salva da vida. Eu te vejo, linda, sem que você nem perceba. Sem que você saiba. Eu observo cada passo, cada movimento.
Nada escuto, nada toco e não respiro. Mas te ver é o melhor dos sentidos. Eu detestaria ouvir qualquer palavra que venha de ti. Sentir qualquer gesto oferecido a mim.
Não me importa tua voz, teu gosto, teu cheiro, teu toque. Toda minha existência está em apenas te ver. Eu não quero nem preciso ter qualquer outra coisa, somente este
voyeur.
Você é meu quadro, minha foto, meu filme. Minha obra-prima. A primeira, a única e a que eu eternamente vou amar com total fidelidade e dedicação.
Mas seria o inferno ter que falar com você. Ter que dizer tudo isso, ou qualquer outra coisa. Eu não saberia fazer nada. Por causa, e só por causa de você eu não mais falo, não mais toco, não mais cheiro, não mais ouço, não mais sinto nada. Nada tem gosto. E tudo o que eu sei, tudo o que eu vejo é você.
Você é a única palavra que eu diria a alguém, se soubesse. Se pudesse. Diria “você” com toda a felicidade.
Não sei teu nome e detestaria poder perguntar. Ficar sabendo. “Você”, para mim, é o nome mais lindo. E se eu pudesse, não daria esse nome a mais ninguém.
Não sei se é amor, o que vejo em você. Sentir, já não sinto. Não posso nada imaginar sobre o que seria isso. Amor, não é. Nem paixão. Acho mesmo é que é Platão.

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Texto escrito na última quarta-feira do mês de junho deste ano, no Centro Cultural São Paulo, pela manhã. Pouco foi modificado, do papel escrito a lápis para a tela digitada. A essência não foi tocada. Tudo isso foi resultado de uma reflexão emocional momentânea - não referente aos últimos acontecimentos.

18.8.05

Dezessete de Agosto, Brasília













Em tempos de protesto,
desejos acabam se molhando em radicalismos
desejos se secam em desesperança

Em tempos de protesto,
apoio moral de nada adianta
É preciso sair às ruas,
destampar a garganta

"Eu quero é que caia esta República, que tudo se foda,
e que venha a revolução!"

Destruir para reconstruir



O protesto todo é contado em metros quadrados
pela Polícia Militar

A mídia fotografa mesmo as caricaturas
A mídia relata mesmo os incidentes

"A revolução não será televisionada"



A luta é tão constante quanto a mudança

É difícil saber o que se quer,
mas vem fácil toda a indignação

Fora todos!, então;
Sempre somos nós que estamos certos
É do nosso lado que deve nascer o refrão

Eu luto pelo desejo de não sofrer
por não ter lutado

11.8.05

Olhos Que Se Cruzam Antes Dos Caminhos














Esta cidade ganhou meu amor incondicional de tal forma que é duro aceitar a idéia de, em determinado momento, me permitir ser forçado a deixá-la.

Esta cidade tem insônia e eu adoro fazer companhia para ela quando no frio das madrugadas em que paro para buscar a filosofia nossa de cada noite.

Esta cidade tem cores tantas, mas jamais pode ser considerada um arco-íris. Não existe pote de ouro, nem toda esta felicidade colorida. E tem um cinza forte demais.

Esta cidade faz brotar pessoas de todos os cantos, partindo para o sem-rumo cotidiano, rotineiro, massacrante, de vez em quando inusitado.

Esta cidade propicia tantos encontros e faz tantos outros desencontrados enxergarem a solidão que todos os restos de sorriso nos rostos de povo das ruas travessas parecem ser um alento para quem passa ao nosso lado, para quem esbarra em nosso ombro, enrosca-se em nossa mochila, pisa em nosso pé e não pede desculpas, pede a nossa esmola, pergunta pelas horas.

A moça vem do outro lado, o lado para onde vou. Eu já grito desde o dedo do pé que nunca mais verei esta moça em minha vida. Tantas pessoas caminham em passos apressados num fluxo contínuo de cidade que não pára. Não sei porque eu fui olhar para ela. Mas eu sei que ela também olhou pra mim. Está olhando e continua a olhar. Tem horas que a cidade tão grande diminui de forma tão brusca que aperta nosso coração. Mas sempre resta espaço para uma dança.

- Nunca foi tão difícil escolher entre esquerda e direita.
- E desde que eu te vi, lá de longe, tentava escolher um dos lados sem perder os teus olhos.
- A gente precisava mesmo se encontrar. Este era o único meio para ambos os lados.

6.8.05

A Vida Secreta dos Dentistas














O amor não é perfeito.
O casamento é impossível.

Ele faz tudo. É ele quem sorri. É ele quem abraça. É ele quem chega mais cedo, levando flores e beijos. É ele quem diz "eu te amo". É ele quem procura os olhos dela.
Ela só o faz sofrer.
E ele vê coisas. Ouve coisas. Diz coisas. Vive estas coisas todas procurando-a, querendo-a ao seu lado. Ela chega sempre mais tarde. Ela apenas traz o jantar. A comida congelada. É ele quem põe as crianças na cama. É ele quem diz "boa noite". Ela apaga o abajur.
Ela só o faz sofrer. Mais.
Ele se perde em si mesmo. Ele chora. Ele foge, e se esconde. Dentro de seu esconderijo, ele mergulha em sua própria dor. Ele desespera-se apenas de pensar em perdê-la para algo que ele não sabe se existe além dos seus sonhos de Otelo. Ele só pensa nela. Seu amor por ela domina todo o seu ser. É um amor devoto, incondicional, amor da vida inteira, amor de sorrisos felizes.
Ela só o faz amá-la ainda mais.

O amor não é mesmo perfeito.
O casamento talvez não seja tão impossível.
Ela só o faz feliz.

1.8.05

Parabéns Pra Você, Nesta Data Querida...


Eu queria escrever em versos esta conversa. Hoje não é um dia prosaico.



Hoje é meu aniversário. Faço dezesseis anos, especialmente hoje. É óbvio e é clichê, porém é verdade: dezesseis anos só se faz uma vez na vida. Mais que isso. Só vivemos nossos dezesseis anos uma vez. E estes anos todos que já foram vividos vão se escondendo em nossa lembrança. E eles, próximos anos, vão se completando a cada dia que passa. Eles, anos que estão por vir, assistem ao espetáculo do passar do tempo. Todos juntos, os anos de pressa e os anos de calma. Eles, anos seguintes, fazem a contagem regressiva. Hoje eles contaram: 16!
O genial Mário Quintana uma vez disse:
"Bendito quem inventou o belo troque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia primeiro de cada mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas recomeça”. Penso eu que nesses constantes começos e recomeços em que consiste a vida, o aniversário é um marco de um novo ciclo. É um ano novo. Uma renovação, mesmo que apenas desejada pelo inventor do calendário, da linha contínua de nossa existência. E talvez por significar tanto é que se comemoram os aniversários, os anos novos e todas as inaugurações – menos as segundas-feiras – de todos os ciclos vividos por nós.
De repente eu tenha achado aí a explicação. Nunca vi muito propósito em comemorar os aniversários. É uma cisma antiga, essa minha.
Talvez seja mais que uma cisma, quem sabe uma reflexão comportamental da sociedade de comemorar datas. Todos têm seu dia. Dia de Finados, por exemplo. Até os que já viveram seus anos são lembrados.
Quando era mais novo, vivia pensando coisas que julgo que ninguém nunca pensou. Até hoje acontece coisa assim. Pensava na possibilidade de haver um dia em que ninguém tenha morrido, e ninguém nascido. Talvez fosse esse o dia da não-comemoração. E eu também pensava que só eu havia nascido naquela data, do ano de 1989.
Eu demorei a conhecer alguém que fizesse aniversário na mesma data que eu. Com isso o Orkut ajudou-me. Faço parte da comunidade dos nascidos em 1º de agosto. Recebi e mandei até muitos scraps em virtude da data para alguns de seus membros. Uma até escrepou chamando-me de ‘chuchu’. Adoro esta forma carinhosa de chamar as pessoas.
Nunca gostei muito de festas de aniversário. Principalmente quando era eu atrás da mesa, todos em volta olhando, de chapéu na cabeça, prontos a cantar a célebre música. Antes de compô-la, o que cantavam? Como eram as festas de aniversário?
Nunca gostei muito de festas de aniversário. Principalmente quando era eu quem recebia todos beijos, abraços, presentes e desejos. Mas é bom ser lembrado. Quem não gosta?

Dia 1º de agosto. Este dia é só meu. Meu e de todo mundo que hoje comemora seu ano novo que começa. Muitos anos virão, eu torço para isso! Mas hoje, eu só tenho dezesseis. Que isso fique de aviso para vocês!

É. E pra comemorar eu queria ter escrito AQUELE texto. De preferência em versos. A poesia é sempre mais encantadora. Mas que mal há? Gostaríamos que a vida tivesse toda a beleza dos versos poéticos, mas a vida é crônica. Se o texto está ruim, também não faz mal. Afinal, não somos o resultado de nossas inspirações, mas sim do acúmulo de nossas banalidades. E o que há de ruim, de pequeno, de errado, faz parte da gente. Não podemos arrancá-lo com desdém, mas com profundo agradecimento. E para quem se lembrar de mim, hoje, obrigado.

26.7.05

Homo Lata















De repente, eles trocaram o homem pela máquina. Afinal, a máquina é perfeita. O homem erra. Por acaso, você já ouviu falar na frase "Errar é mecânico”? (pausa) Mas "Errar é humano" você já ouviu, com certeza.

De repente, eles trocaram o homem pela máquina. Afinal, se a máquina der problema, eles consertam. Trocam alguma peça. Trocam de máquina. Agora, consertar um homem é muito complicado. Trocar as "peças" do homem também sempre foi difícil. Trocar de homem, a não ser para certas mulheres, também não é nada fácil.
De repente, eles trocaram o homem pela máquina. É. Isso aí mesmo. Disseram que era por causa da produção. A maquina, lógico, produz mais. Disseram que era por causa do custo. A maquina, lógico, gasta menos. E quem consome é o homem. E o homem quer consumir cada vez mais por cada vez menos.
Vocês devem estar pensando que eu ia dizer, de novo: "De repente, eles trocaram o homem pela máquina". Mas eu não vou dizer isto não. Afinal, vocês já entenderam. O homem perdeu seu lugar para a máquina. (pausa) Olha! Frase nova!
O homem perdeu seu lugar para a máquina. O homem comum não tinha vez. Era preciso ser diferente. E para isso, se criaram modelos a serem seguidos. E novos modelos de homens criaram novos modelos de máquinas, que substituíam homens.
Pelo menos no posto de consumidor o homem ainda não perdeu o lugar para a máquina. Mas quem disse que teríamos máquinas fora dessa? O homem mora em lugares construídos com a ajuda de máquinas. Seu meio de locomoção é uma máquina. Os alimentos pelo homem consumidos são feitos pela máquina. O cafezinho sai da máquina! Até as mulheres de certos homens mais parecem máquinas - de lavar.
O homem não precisava da máquina. Mas a criou, e passou a precisar. Perdeu seu lugar para ela. Se hoje um homem é bom em alguma coisa, dizem que parece uma máquina. Mas se pararmos para pensar, o homem não passa de uma máquina mesmo. É Incrível!
Tanto o homem quanto a máquina, se tiver algum problema, é preciso resolvê-lo para que volte ao normal. Se esquentar muito, é preciso dar uma esfriada. Se virem que faz tudo bem feito, já vão querer explorar. Até que se parecem bastante.
Hoje em dia, é tudo mecanizado (mecanizado), computadorizado (computadorizado), industrializado (industrializado). Enlatado (enlatado). Hoje em dia, tudo é padrão (tudo é padrão). Buscando ser diferente tudo é igual (tudo é igual). E a cada dia, alguma coisa é feita para ser melhor que a outra. E amanhã já será superada. E o que esperar do homem?
O homem não é um robô. Nem uma máquina. O homem é um produto. Um produto que ele mesmo consome.
Esse produto tem preço, data aproximada de validade, nota fiscais, inúmeros manuais de instruções e profissionais que cuidam de sua manutenção. Pessoas que fazem com que este produto, o homem, esteja pronto para consumo. Nunca se viu, propriamente dito, o produto homem sendo vendido. Mas isso está muito próximo.

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Texto escrito em 2004 e convertido para performance, apresentada na ETESP. O mesmo já foi gentilmente publicado por Oliver Cauã Cauê em seu blog.

22.7.05

To The Oscar I've Gone














Quarta-feira e este inverno meu traiu. Saí de óculos escuros.
Resolvi na noite anterior o que faria no dia desocupado que estava para amanhecer e já destaquei dois selecionados no guia: um filme e uma exposição. Era por volta de três horas da tarde quando cheguei ao HSBC Belas Artes. A moça bilheteira confirmou o horário. O filme era "Casa de Areia". Queria a sessão das duas, mas a feijoada fora de ocasião que me serviu de almoço em casa acabou por escolher a sessão das quatro e vinte. Eu teria uma hora tranqüila para ler "Restou o Cão - e outros contos", de Ligia Garcia-Roza. Para distrair. O trânsito-caos que seguia a Consolação só atrapalhou no começo.
Simplesmente deslumbrante, o filme. Belíssimas e emocionantes imagens e atuações. Sem dúvida alguma, uma obra que traz restrições para ser apreciada pelo grande público. Porém, não é difícil se envolver naqueles densos lençóis maranhenses, os quais caminharam as incríveis Fernandas.
O inverno tarda mas não falha. Saí e dei de cara com o vento frio característico. Tratei de pegar a blusa, o mapinha básico e andar rumo à Galeria Bergamin para ver a exposição "Através", com obras de 'grandes' nomes da arte brasileira. Descendo a Bela Cintra e atravessando as alamedas. Santos, Jaú, Itú, Franca, Tietê, Lorena, e eu atravessando e lembrando de quando eu vinha, antes na Alameda Franca, e depois na Santos, consultar-me com o Marco Antônio, psicólogo, quando criança. Lembrei do passado mas não do mapa. Acabei fazendo outro caminho. Fui direto na Oscar Freire e acabei não achando de primeira a tal travessa, aparentemente inexistente. Voltei até a Rua Augusta, desci a 120 por hora até a Rua Estados Unidos, dobrei à esquerda e subi pela Padre João Manuel. Nem tinha esta rua no mapa. São tantos os idiomas falados naquelas esquinas que eu quase arrisquei um "Could you help me, please? I need to go to Rio Preto Street...". Deixa quieto. Resolvi continuar pela Oscar Freire. Achei a tal rua. Bem mixuruca. Rua Rio Preto. Era lá a Galeria. O segurança que fica do outro lado da rua me olhou feio. O recepcionista me antendeu bem, entregou-me o catálogo das obras e deixou-me à vontade. Não gostei da exposição. Tenho sérias dificuldades em gostar de arte moderna e contemporânea. Acho inclusive que também atiraria tomates no palco do Municipal, se vivesse naquela São Paulo de 22. Até que as obras de Ligia Pape e Abraham Palatnik agradaram-me. Em contrapartida, Hélio Oiticica e Alfredo Volpi me decepcionaram, tamanhos os nomes que têm. Não creio, neste caso, em importância histórica. Tudo bem, o problema está em mim, e não na arte. Fui embora. Claro, sorri para o segurança.
É impressionante o modo como somos vistos em ruas superluxuosas como a Oscar Freire. As pessoas me olhavam como se fosse um office-boy e tudo o que isso (in)significa pra eles. Talvez por causa da mochila. E eu apenas olhava curiosamente. Aquela rua, aquelas pessoas, a forma de distribuição das coisas. Todas aquelas boutiques, vitrines de preços altíssimos, caras até para olhar. Os cafés e bares lotados. Os italianos ouvindo música americana em seus iPod's, os americanos usando marcas italianas em seu vestuário da night. Os burgueses chiques caminhando lentamente. Eu disse chiques? Chique já era. Burguês é fashion, como no outdoor. Como na SPFW.
Eu já tinha caminhado pela Oscar Freire outras vezes, mas desta vez me senti incomodado. Dois gringos viados - ou metrossexuais - param para atravessar a rua ao meu lado. Talvez não fossem viados - ou metrossexuais. Eu, um tanto retrossexual e homofóbico, até tentei decifrar o inglês sugestivo da dupla, mas acabei por apertar o passo quando o sinal abriu. Um senhor japonês, que também estava para atravessar, fez uma cara desacreditada. Continuo a observar. Tudo é muito limpo, bonito, iluminado. Fashion. Ninguém com uma cara que expresse verdade. Principalmente as garçonetes. Somente os seguranças. E nas esquinas das boutiques que fecham cedo, os moradores de rua fazem um simpósio de inverno. O chinelo Havaianas da menina e a bota Arezzo da moça. As duas cruzando olhares na esquina, até a moça atravessar sabe quantas alamedas até o café.
O filme foi excelente. A exposição, desagradável. A Oscar Freire, terrível. Na Augusta, eu indo para o ponto de ônibus, um rapaz vasculha o lixo para ver se encontra alimento. Uma mulher vasculha a agenda de telefones em seu aparelho celular para ver se encontra amigos pra jantar. O ônibus não vem. O rapaz nada acha. O telefonema da mulher deve ter dado caixa postal.
No ônibus eu continuaria lendo os contos de Garcia-Roza. Mas o dia poderia ter tido um final melhor. Talvez tenha, para a moça da bota Arezzo e seu belo sorriso sem graça.
Acho que Zeca Baleiro estava certo:
as meninas dos jardins gostam de rap
as meninas dos jardins gostam de rap
as meninas dos jardins gostam de happy end.

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Texto escrito no dia 13/07, quarta-feira, ao fim da noite

18.7.05

Meu pedaço na partilha


A curiosidade certamente é uma das maiores culpadas da evolução humana.


Só lamento pelo pobre gato, que morreu de curiosidade.
Seguindo a linha da curiosidade, me pergunto:
"O que teria dito o protagonista ao antagonista, momentos antes de entrar em cena, na primeira peça de teatro da história da Humanidade?" Talvez, se fosse eu, diria "Oi". Oi pra vocês também. Bom dia, comunidade.
Que grande tarefa essa, de escrever neste caderno. Logo eu?! Mas uma coisa nisso tudo me alegra, afinal, me deixaram por último, com tudo isso de folha sobrando. Pelo visto, já perceberam que sou um homem de muitas palavras. E aqui, neste bastão em forma de folha, folha que me dá o poder da palavra, o que escrever, para depois ler para todos vocês? Acredito que além de um diário de bordo, este belíssimo instrumento burocrático quadrado, dividido em folhas, subdivididas em páginas, repletas de linhas esperando para serem vestidas, seja um registro de partilha. E nada do que deixarei registrado aqui pode fugir do que já disse em todas as partilhas. Até mesmo quando passei a palavra no ato de recebimento.
Que bela convivência! Naquele primeiro dia, ainda meio frio, presenciando a soberania numérica feminina, todo aquele volume de sorrisos tímidos nas apresentações. Como foi bom dar aquela mentida para fortalecer a aparência, transmitir uma boa impressão. Acho que colou.
A decorrência dos encontros de sexta-feira à tarde, como foi boa! Aqueles exercícios de se soltar para si mesmo, conhecer seu corpo, e aos poucos, o corpo dos outros, saber lidar com tudo isso.
A forma de se comunicar em silêncio num mundo onde se grita tanto! Tudo é sonoro! Até a poluição já ganhou uma vertente sonora! Uma forma sonoplástica de manifestação e nós ali mudos diante de.. de.. de nós mesmos! Estou sem palavras.
O começo dos diálogos. A dramaticamente cômica forma de se comunicar para provocar reações nos outros. E rir, e fazer errado, e desconcentrar, e gritar no pensamento que não está bom e fazer aquela coisa ótima, que você leu que estava ótima toda aquela apresentação na face dos colegas.
Dançar, cantar, ler, ouvir, falar, se movimentar, movimentar o outro, movimentar o grupo, fazer o círculo, seguir a canção, pular a corda, passar o bastão, que coisa maravilhosa! Simplesmente teatralizar as tardes de sexta-feira. Essas tardes de sexta, que acabaram se tornando um percalço cotidiano de nossa semana. Ah, eu sempre quis escrever "percalço cotidiano" num texto. Já estava dois parágrafos pra baixo quando resolvi subir só pra encaixar isso... Encaixar da mesma forma que o teatro encaixou-se nas nossas vidas. Entre parágrafos, para construir nosso texto.
Teatro. Que palavrinha incrível. Sabe que a minha primeira lembrança de teatro foi receber das mãos da fada azul um livrinho da história de Pinóquio, ela de cima do palco, no final da peça, estendendo as mãos mágicas para o baixinho da platéia, de olhos encantados. Olha só o baixinho, no que se tornou. Um cara grande a quem foi mostrado o que é teatro, pra ele pintar da cor que quiser. Gente! Obrigado! Dizem que escrever palavrões acaba matando um texto, mas que se foda! Puta merda, gente, obrigado!
Sempre falta alguma palavra, mas nos tornamos seres resignados diante da perda. Mas me vem a felicidade quando eu me convenço de que a perda dessas minhas palavras já está solucionada com as palavras de vocês. Basta eu passar a palavra. Respira fundo. Nosso encontro passado foi nosso ensaio geral para o grande dia! O dia que será nosso e somente nosso. Seremos nós em cada gesto, cada diálogo, cada risada, cada aplauso ou cada vaia da platéia. Todo o sentimento de alegria, satisfação, decepção, desgosto.
O grande dia é só mais um jogo. Como todos os jogos de cena, com os quais nos comprometemos. Mas este grande dia se engrandece porque o jogo é de sentimento. E sem qualquer leve toque de sentimento nada se constrói. Razão e sentimento casam tão bem quanto tragédia e comédia. Que façamos um belo casamento. E que ninguém se pergunte se o que faz é certo. O sentimento não deve responder nada. Sua função é apenas a de se tornar culpado pela nossa evolução. Que coisa, mas que sentimento é esse? Eu talvez o chame de amor. Ninguém sabe o que é o amor, portanto reservo-me ao direito de dar seu nome a qualquer sentimento que eu acredito ser forte, ser puro, ser verdadeiro. E não há necessidade de entender o amor, ou medi-lo, ou justificá-lo. Há o dever de vivê-lo e não se deve fugir disso porque amor é no nosso instinto.

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Texto escrito para o caderno de partilha do grupo de teatro do qual fiz parte. Resolvi publicá-lo em consideração à nossa apresentação de domingo, 17/07. É extenso, mas muito importante.

16.7.05

Reflexão



Um cotidiano
estranho no espelho

Eu
Cada dia mais velho

me fito

Tem dias em que a gente
acorda mais bonito

11.7.05

Lista Telefônica














Alô? Alô? Alô...?
____________________Oi! Olá! Tudo bem? Tudo..
_____________________ _A ligação está péssima,
__________________________________ _ mas...
Hein? Como? ...Não!
________________________________ __Pois é...
_________________________ resolvi criar o blog.
______________________ _ Visita lá, e comente.
Ah, é? Está ocupado?
______________________ Desculpa, não entendi.
___________________________Repete... Quem?

A gente se fala.
Até mais.

Tu, tu, tu, tu, tu, tu, tu...